
Acho que tem coisas que a gente lembra de um jeito... mas quando volta pra ver, percebe que não era bem aquilo. Só que ao mesmo tempo era sim — só que no sentimento.
Por exemplo, quando eu era pequeno, achava que os efeitos dos Power Rangers ou dos Tokusatsus eram incríveis. Parecia o auge da tecnologia. As lutas, os monstros, os robôs gigantes — tudo parecia tão real, tão bem feito. Mas hoje, vendo de novo, dá pra ver que era tudo meio tosco, com efeitos datados, até ingênuos. Só que ainda assim, aquilo mexe de forma diferente. Ainda tem uma força. E aí eu percebo: não era sobre os efeitos. Era sobre o que aquilo fazia eu sentir.
Acho que com o tempo a gente começa a ver mais as coisas. Cria senso crítico, ganha mais vivência. E com isso vem uma desilusão natural. Muita coisa que parecia grande fica pequena. Muita coisa que era incrível fica comum. Mas o sentimento que aquilo deixou — esse não muda. Ou muda pouco.
Talvez seja isso: as memórias não são fiéis, mas são sinceras. A gente não lembra exatamente do que aconteceu, mas do que aquilo provocou em nós.
E cada um sente de um jeito. Tem gente que, mesmo adulto, ainda sente parecido com o que sentia antes. Outros já perderam totalmente essa conexão. Mas mesmo que volte diferente, tem momentos que ainda dá pra sentir como era. Nem sempre inteiro, mas um pedaço. Um reflexo. Uma fagulha.
No fim das contas, a lembrança é mais sobre a sensação do que sobre o fato. E talvez isso seja o mais verdadeiro que a gente pode ter.